top of page

Atualizado: 22 de mai.

Trends ainda vão deixar a cabeça da humanidade oca. E a trend da vez, que faz um retorno repaginado, são os livros de colorir. Lembra? Já tinhamos passado por eles com aquelas cafonérremas mandalas dos entitulados "livros de colorir para adultos", mas agora eles voltaram mais "fofos', com o olhar inocente e adocicado do Bobbie Goods.


Quando os "livros de colorir para adultos" estouraram, lá para 2015, eu já achava uma completa perda de tempo. Na época eu estava na faculdade de Belas Artes, e brincava com minha amiga que pra gente "colorir é dever de casa", ríamos muito. Mas essa modinha me incomodava, e eu não entendia o porquê.

Na Bienal do Rio seguinte, corri para pegar uma senha do Café Literário, para uma palestra com duas jovens ilustradoras e meu Professor de ilustração Rui de Oliveira, aquarelista, desehista, autor de vários livros com ilustrações impecáveis. Durante a palestra, em uma troca de conhecimento e ideias entre gerações, uma pergunta inocente surgiu para os três profissionais, não me lembro bem se da platéia ou da pessoa que mediava o encontro: qual sua opinião sobre os famosos livros de colorir para adultos?

É isto! Eu sabia que vinha uma pedrada do meu digníssimo professor, apesar de nunca ter ouvido o que ele tinha a dizer sobre o assunto em específico, eu sabia que um profissional como ele, que pregava o que ele pregava durante as aulas, teria uma opinião no mínimo polêmica sobre isso. Dito e feito.

Uma perda de tempo, é engessar a criatividade colocando as pessoas em caixas, limitar até onde sua imaginação pode ir. "Vá fazer uma aquarela" foram palavras do próprio Rui, que traduziram meus sentimentos sobre esse tipo de atividade e me trouxeram imediato alívio.

E se dar as linhas para preencher de cor já não fosse limitante o suficiente, hoje temos tutoriais no YouTube de como colorir cada página, para você seguir o passo a passo e, no final, todos terem o mesmo livro colorido da mesma forma sem nenhuma brecha para individualidade.

Mas Bobbie Goods agrada e satisfaz pois é a resposta prática pra uma sociedade sem tempo e sem criatividade, com medo da imaginação e que abandona o lúdico cada dia mais, achar que está criando algo, e até mesmo chamar isso de arte.


Mas para fechar esse texto de maneira positiva, vou mostrar 3 coisas que você, leigo das artes, pode fazer ao invés de comprar um livro de colorir.


✸ 1 desenhar com lápis de cor ou giz de cera

Uma atividade barata, lápis de cor e giz de cera podem ser encontrados em qualquer papelaria, você pode ter aí na sua casa guardado, pode pegar emprestado do seu filho, sobrinho, irmão mais novo. Não existe não saber desenhar, é pra se soltar mesmo, se desprender do realismo, desenhar "como uma criança"!


Sempre que me junto com minhas priminhas brincamos de desenhar.


✸ 2 brincar de colagem

Sabia que uma revista Recreio está custando 10 reais na banca? Pois é, faça um tour na sua banca de jornal mais próxima, pegue aqueles adesivos que você têm guardado aí já vai fazer aniversário, umas canetas coloridas e, claro, cola! E faça uma colagem criativa!


Um fim de semana recortando e colando com minhas amigas.


✸ 3 pintar a natureza com aquarela

Esse talvez seja um pouco mais caro, aquarela não é das tintas mais baratas, mas caso você queira testar essa técnica, qualquer tinta baratinha já está bom, não se preocupe em ser profissional no início. A aquarela é boa porque quando ela se mistura é difícil ficar feio, um laranja e um rosa espalhados no papel já fazem um lindo pôr do sol.


Aquarelas de quando eu estava aprendendo a usar.


Se você fizer qualquer uma dessas atividades me mostra! Pode me marcar nas redes sociais @vagalumie ou responder por aqui mesmo, eu vou amar ver suas criações!


Te vejo em breve!

✸

 
 

Não importa quantas fotos você tire em uma viagem, nunca será suficiente para matar a saudade. Isso que eu percebi enquanto montava esse texto.

Na newsletter/post anterior eu falei como estava difícil criar, como o trabalho mecânico de fazer ilustrações matou um pouco minha criatividade, cultivada durante toda a minha vida antes do trabalho em estúdio. E, como uma tentativa de driblar a monotonia que conheci nas quatro paredes do meu emprego e do meu quarto, tentei atirar longe, mudar completamente o ambiente, sair da comodidade sem graça de onde estava, pode parecer metido a besta dizer isso, mas o artista morre se ele não vê o mundo, é impossivel criar apenas dentro de cômodo.. Me inscrevi em uma residência artística, bem longe e num país que com certeza me inspiraria, pois desde pequena ele influencia meus gostos, o Japão.


Jardim de uma casa de chás em Quioto.
Jardim de uma casa de chás em Quioto.

Eu me inscrevi no primeiro semestre de 2023 para o ˜Almost Perfect˜ (falecida residência em Tóquio), mas não passei, e assim tentei minha segunda opção: o "Studio Kura" em Itoshima, Fukuoka, e isso foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

Eu, como uma pessoa de classe baixa que não tem tanto dinheiro para investir em viagens internacionais, juntei tudo o que consegui em um ano e meio para chegar até o Japão e me manter lá durante pouco mais de um mês. Se eu tivesse conseguido a residência em Tóquio, provavelmente nem sairia da cidade e seus arredores, seria mais simples, mais barato. Mas, indo pra Itoshima pude conhecer o lado do Japão que talvez não colocasse no meu roteiro num passeio normal, uma cidade tão pequena, no litoral, com plantação de arroz por todos os lados e carangueijos atravessando a rua..


Eu nos campos de arroz pelo meu amigo de residência @finnolin.
Eu nos campos de arroz pelo meu amigo de residência @finnolin.

Não é exagero dizer que o lugar parecia saido de um filme do Ghibli, parece repetitivo dizer isso de todo lugar do Japão, mas é a mais pura verdade. Para comprovar, vou colocar aqui mais algumas fotos antes de seguir com o texto. E esse é só o caminho até o mercado.



✷Mas qual foi o trabalho que desenvolvi por lá?

 Eu queria desenvolver algo que fizesse sentido aqui no Brasil também, mas que tivesse esses pedaços de Itoshima, que o local me fornecesse referências e inspirações. Eu fiz uma HQ, Uma história em desenhos sobre uma pequenina garotinha (do tamanho de uma estrela do mar), que vive na praia e coleciona conchinhas.

 Vou te dizer a verdade, hoje em dia eu não faria mais nesse formato, não acho mais que precisava ser uma história em quadrinho ou um livro ilustrado para ter uma narrativa, mas eu também não teria mudado de ideia se não fosse pelo tempo que compartilhei com esses outros artistas lá em Fukuoka.

 Vários dias na semana eu saia de casa para uma caminhada de 5 minutos ( ou menos) até a praia, onte eu ficava até estar escuro demais pra enxergar o que tinha na areia. Todos os dias a praia me trazia coisas novas, criaturinhas diferentes, vivas e mortas, carcaças que pareciam fósseis e todo tipo de concha. Cada uma delas fez parte das aquarelas que pintei no papel.



 Queria muito fazer esses desenhos com materiais japoneses, em parte porque fazia sentido, em parte porque queria muito entrar numa loja de arte japonesa e comprar algumas coisas. Foi assim que escolhi as aquarelas Gansai, um tipo de aquarela japonesa, de pans grandes para caber um pincel japonês e mais opaca e de cor vívida que as aquarelas ocidentais. Voltei para o Brasil e não consigo mais usar as tintas na Winsor&Newton, Van Gogh, Cotman... elas parecem hoje tão sem vida... haha.

Eu sabia que não teria como imprimir a tempo da exposição em um formato de livro, então coloquei todos na parede para que os visitantes pudessem ver. Você deve pensar que quase não aparece gente para olhar os trabalhos em uma cidade tão pequena e distante. Mas eles vão. Há convidados do Hiro, nosso anfitrião, pessoas que conhecemos e convidamos durante a nossa estadia (o Kura produz os convites para os artistas distribuirem) e até gente da prefeitura, já que o Studio Kura é um importante pedaço da cultura local.

Essa pequena história que chamei de ˜Dentro da Concha" será impressa em risografia e lançada na PocCon, evento de artes que acontece nos dias 20 e 21 de junho em São Paulo. Mas não sem antes uma pré-venda lá na loja, pra me ajudar a custear a impressão, então se você puder, compre na pré-venda.



Assim como em grande parte das residências ao redor do mundo, eu dividi minha casinha com artistas incríveis, os quais me inspiraram muito com suas diferentes técnicas artísticas e me deram curiosidade de experimentar caminhos diferentes para fazer arte:


✷ Barbora Kachlikova, uma incrível artista nascida na República Tcheca que reside hoje na Finlândia. Ter acompanhado uma artista ADULTA, tão madura, vivendo de arte e com a agenda lotada me fez ter esperança de que talvez trabalhar para um estúdio não seja o único jeito de viver com arte. Seu trabalho abstrato também abriu meus olhos para estudar mais sobre o estilo, que é tão deixado de lado pelo conteúdo da faculdade de Belas Artes.


✷ Veronika Abigail Beringer e Lisa Slawitz são ambas da Austria, elas são amigas que se inscreveram juntas para essa residência. A Vero tem um trabalho com cerâmica que eu me apaixonei, ela trabalhou com miniaturas de casas de banho, algo muito tradicional no Japão, com cada azulejinho e mini acessório feito a mão, vale dizer que ela levou seu cônjuge (foi quem tirou minha foto no arrozal) para passar esses dias com ela. Lisa pinta humanóides com formas e cores loucas e lindas, seu trabalho é muito sobre as relações entre nós humanos, suas pinturas talvez tenham sido as que mais me deram ideias para explorar coisas novas.


✷ Les Maleantes é a dupla que os irmãos Adriana e Arnau, espanhóis que residem em Berlin, formam quando colaboram em suas artes performáticas. Adriana é interprete, atua e dança, enquanto seu irmão Arnau é DJ e faz toda a sonorização da dupla. O projeto desenvolvido por eles no Kura foi o mais diferente entre todos. Uma espécie de gravação guia sobre o silêncio, com uma caminhada nos silenciosos arredores do estúdio e uma performace a distância de Adriana. Pra mim, uma lembraça de que a arte vem em diversos formatos.


Havia outros residentes nas outras duas casas do Kura, mais ou menos a mesma quantidade de pessoas em cada, mas são muitos pra eu falar, então decidi focar apenas em meus "roomates", foi com eles também que passei a maior parte do tempo. Tem algo que a Vero me disse, como uma artista que já passou por diversas residências, que uma Residência Artística vai muito além de chegar num lugar e desenhar/pintar, é sobre viver o local e conhecer seus colegas, afinal essa experiência não é como alugar um estúdio num lugar distante para trabalhar, é sobre coletar todos esses momentos para criar a sua arte da sua maneira.



Foi uma experiência única e insubstituível. Espero fazer algo parecido novamente em breve.

Ah! Se você quer ver mais sobre a residência e Itoshima, eu fiz um video que está lá no meu canal do YouTube.



Até a próxima!

✷

 
 

"Your drawings have real humanity. That is rare and precious as gold." (Seus desenhos tem uma humanidade verdadeira. Isso é raro e precioso como ouro). O autor e ilustrador Willian Joyce comentou isso em um desnho que postei no Intagram em 2015 (uau, 10 anos atrás), e ultimamente tenho pensado muito nisso.



Na época eu estava no segundo ano do curso de Belas Artes da UFRuralRJ, onde estava experimentando diferentes materiais e formatos para se fazer arte, preenchendo dois sketchbooks por ano com ideias mirabolantes e desenhos variados. Eu estava no auge da minha criatividade. Não foi o compromisso da faculdade que matou minha vontade de criar.


Em 2019 encontrei meu primeiro emprego, eu desenhava para animação em um estúdio no Rio. Mas eu não acho que poderia chamar isso de criar. Não posso falar pela experiência de todo mundo, mas trabalhar dentro de um estúdio de animação parecia muito longe de criar arte pra mim. Eu desenhava um cenário ou outro, muitos props e algumas ilustrações e, apesar de ter conciência do briefing e da visão do diretor, tudo parecia muito limitado. O capitalismo mata a criatividade. Manter as pessoas erradas ao redor mata a criatividade.


Meus desenhos pessoais, apesar de parecem mais anatomicamente corretos, com cor luz e sombra adequados, estavam longe de serem criativos. Fui perdendo a graça, o charme, a humanidade. Agora eram apenas fanarts para vender print em feira de anime (nada contra quem vende print em feira de anime, eu faço isso, apesar de não querer mais).  Willian Joyce certamente não deixaria o mesmo comentário de 2015 nos meus desenhos atuais, eu mesma vejo o distanciamento desses desenhos do comentário espirituoso deixado por ele. Está cada dia mais difícil criar.

A necessidade de ter dinheiro, comprar uma casa, ser independente, a ansiedade de não conseguir fazer nenhum desses, isso mata minha criatividade. E esse ciclo segue assim, eu talvez não tenha forças o suficiente para quebrá-lo. Mas eu estou tentando.


Entre minhas metas para o ano está: participar de oficinas e visitar mais espaços de arte. Coisas simples e possíveis, às vezes até gratuitas.

Na oficina de zine oferecida pela Seiva com a Giovanna Cianelli, experimentei fazer colagens usando revistas e adesivos, sem desenhar nada, realmente para sentir esse outro jeito de ser criativa. Eu simplesmente amei!




Experienciar a arte de uma nova maneira me ajuda a pensar na criação artística de um jeito diferente. Como se o cérebro aprendesse um caminho novo até chegar ao resultado final. O que torna o processo mais prazeroso, ou menos doloroso.

Ano passado me arrisquei física, emocionalmente e financeiramente para realizar uma Residência Artística no Japão (que vou me aprofundar mais aqui pelas Newsletters) . Foi a melhor experiência que já tive na vida, tanto pessoalmente quanto em relação a arte. Lá tive o privilégio de acompanhar o processo de meus colegas, cada um de um canto do mundo, cada um com seu método de criação. Um costurava, o outro dançava, mais um pintava e ver tudo isso acontecendo no mesmo ambiente também abriu novos caminhos na minha cabeça.

Quero citar especialmente as pintoras de arte Arte Abstrata que estavam lá. Ver esse tipo de arte ser produzida diante dos meus olhos me fez pensar diferente, tanto que comecei esses dias a procurar mais aprendizado sobre. Mas quero falar sobre isso com mais detalhes no nosso próximo encontro.


Fiquem a vontade para comentar, conversas, essa é a ideia desse novo formato. Obrigada por chegar até aqui e até a próxima!


✸

 
 
bottom of page